A cidade mineira de Barão de Cocais é um destino multifacetado. O local é palco para esportes radicais como highline e escalada; seu cenário é repleto de construções e registros históricos, culturais e arquitetônicos; sua gastronomia típica é reconhecida e festejada em grandes eventos tradicionais; e sua natureza atrai pelas mais de vinte cachoeiras presentes na região. São muitos os motivos para visitar esse município, que está há cerca de 97Km de distância da capital Belo Horizonte.
Barão de Cocais integra o roteiro Entre Serras: da Piedade ao Caraça, na região do Circuito do Ouro. E também faz parte da Estrada Real e da Rota do Ferro.
Ao longo deste post compartilho meu roteiro de um dia na cidade e já adianto: um dia ou mesmo um final de semana não são suficientes para aproveitar tudo que o local têm a oferecer. Minha vontade já é de voltar e conhecer mais atrativos como as outras tantas cachoeiras que não visitei e o Sítio Arqueológico da Pedra Pintada, por exemplo.
Porém, para quem estiver realizando um passeio pelas cidades históricas mineiras e tem pouco tempo para visitar tudo, este guia com os principais pontos turísticos de Barão de Cocais já é um bom começo! Se tiver oportunidade, não deixe de visitar o município!
Sobre a origem da cidade
A cidade começou em um tempo que o ouro era o principal motivo para levar aventureiros a essas terras. Foi no início do século XVIII, com a chegada dos bandeirantes paulistas às paragens do Rio São João, que esta localidade recebeu seu primeiro nome, São João do Presídio de Morro Grande. O grande atrativo do lugar foi o fato de terem sido ali encontrados veios importantes para extração aurífera.
Esses veios, mais tarde, seriam os mais importantes das Minas Gerais, junto aos de Mariana e Ouro Preto. Foi em Barão de Cocais que aconteceu o momento impar de grande destaque da produção aurífera do estado: a Mina do Gongo Soco, da qual hoje só se avistam ruínas.
Quando a notícia do ouro abundante se espalhou no arraial do Morro Grande, como era de costume na época, logo foi erguida uma igreja. Então, em 1764 teve início a construção da Igreja Matriz São João Batista do Morro Grande, considerada primeiro projeto arquitetônico de Aleijadinho e da qual abordo mais ao longo deste texto.
Em 1938 o nome do distrito foi oficialmente reduzido para Morro Grande. E em 1943 é emancipado, se separando de Santa Bárbara, e passa a se chamar Barão de Cocais. O nome que segue até os dias de hoje é uma homenagem ao Barão José Feliciano Pinto Coelho da Cunha, que nasceu e viveu na antiga Vila Colonial de Cocais, atual distrito de Barão de Cocais.
Santuário de São João Batista
Minha primeira parada na cidade foi para conhecer o imponente Santuário de São João Batista, no centro de Barão de Cocais, que é patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Erguida em 1763, no mesmo local onde antes existia uma pequena capela dedicada a São João Batista, a igreja tem sua obra atribuída ao Aleijadinho. Antônio da Silva Lisboa participou do projeto do Santuário e deixou suas marcas no desenho da fachada e na solução, ousada para a época, posicionando as torres diagonalmente em relação ao corpo da igreja.
A planta da obra veio de Lisboa em 1762 mas não agradou inteiramente os responsáveis da época, que então encomendaram ao Aleijadinho modificações com base na planta original. Portanto, ao que tudo indica, este seria o primeiro projeto arquitetônico do artista.
A pintura do forro em madeira é atribuída ao Mestre Ataíde e representa o batismo de Jesus por São João Batista, enquanto o projeto de tarja do arco-cruzeiro é atribuída também a Aleijadinho.
Cruzeiro das Almas
No caminho para algumas das principais cachoeiras da região, passamos pelo Cruzeiro das Almas. O símbolo foi erguido em 1788, por intenção das almas daqueles que lutaram em batalha entre os índios Caetés e bandeirantes. O monumento histórico está voltado para a trilha dos Caetés, cujo pedestal em granito, de oito lados, possui inscrições setecentistas com menção ao fato ocorrido.
A Rota do Ferro e as cachoeiras
Seguindo o passeio rumo às serras e cachoeiras de Barão de Cocais, passamos pelos imponentes trilhos do trem que cortam a região, também conhecida como Rota do Ferro.
A cidade possui cerca de 27 quedas d’água e a chamada Cachoeira Água Fria é uma das que possui o mais fácil acesso. Sua queda é de aproximadamente 30 metros.
A segunda parada foi na Cachoeira da Cambota. Formada por vários saltos ao longo de seu curso e poços propícios para banho, esta cachoeira fica localizada na serra que leva o mesmo nome e pertence ao complexo da Serra do Espinhaço. É circundada por mata de galeria e banhada pelo Córrego São Miguel e uma das mais visitadas do município.
A Serra da Cambota também é parada obrigatória para os praticantes de esportes de aventura na região. Onde diversos grupos de slackline e outros esportes outdoor – como hard endure, ciclismo e corrida – se reúnem.
O Pedro Marques, atleta e guia na região, contou sobre os campeonatos de highline – modalidade de slackline nas alturas – que já virou marca registrada do turismo em Barão de Cocais. Quando as competições acontecem, são posicionadas diversas linhas ligando os altos morros que compõem a paisagem. A mais extensa delas já chegou a 750 metros e foi palco de um recorde sul-americano no local.
Em alguns pontos no topo da Serra é possível ver ao longe a Serra da Piedade (Caeté), Serra da Gandarela e Serra do Caraça (Catas Altas), praticamente a área toda percorrida pelos turistas no roteiro Entre Serras.
De cima também se avista a Pedra da Tartaruga. Com diversas fendas e grutas este morro se tornou um dos lugares preferidos para praticar a Escalada em via móvel (em que se utiliza de material de proteção móvel, colocados em fendas e similares. Neste tipo de escalada nenhum equipamento é deixado de forma definitiva na rocha após a prática, e nem é necessário fazer furos).
Vila Colonial de Cocais
Integrando o município de Barão de Cocais está a charmosa Vila Colonial de Cocais! Mais uma parada obrigatória na região para quem gosta de apreciar casarões e igrejas dos tempos coloniais, além de apreciar a tranquilidade e quietude de uma típica cidadezinha do interior mineiro.
Sobrado do Cartório
O Sobrado do Cartório é um dos exemplos arquitetônicos coloniais. Atualmente ele está prestes a abrigar o CAT (Centro de Atendimento ao Turista do roteiro Entre Serras: da Piedade ao Caraça, que integra o Circuito do Ouro). O sobrado tem mais de 200 anos, é patrimônio cultural do município e remete aos tempos em que a vila era repleta de outras construções similares, sendo a maior parte delas pertencentes ao Barão de Cocais.
Igreja de Sant’Anna
Quase em frente ao Sobrado, avistamos a Igreja de Sant’Anna, construída na segunda metade do Séc. XVIII. Destaca-se pela talha dourada dos três altares e pela influência oriental. Foi construída para receber apenas os nobres e brancos da época.
Igreja Nossa Senhora do Rosário
Ainda na Vila Colonial de Cocais visitamos a Igreja Nossa Senhora do Rosário, construída em 1855. Esta foi criada para receber os escravos, negros forros e mestiços. Possui elementos do barroco e neoclássico. Ela foi tombada pelo IPHAN por sua importância cultural.
Quitandas de Barão de Cocais
Em frente a esta igreja está a praça principal da vila, onde acontece a tradicional Festa da Quitanda – um grande evento que reúne agricultura familiar, espaço para apresentações musicais e outras atividades que atraem desde as crianças até os adultos.
Quitandas, em Minas Gerais, é como são chamados os doces que geralmente são acompanhados de café ou chá. A cidade é um dos destaques na gastronomia mineira. O modo de fazer a goiabada cascão de Barão de Cocais, por exemplo, já é patrimônio imaterial do município.
Outra iguaria açucarada que é marca registrada da região é o doce de leite. Diferente daquela textura e cor mais escura, entre caramelo e marrom, o doce de leite das quitandeiras de Barão de Cocais é bem clarinho, de cor bege. Eles afirmam que, esse sim, é o doce de leite tradicional! Provei e achei muito saboroso e tão bom quanto este que comemos no Sul.
Através da agricultura familiar – puxada pelos quitandeiros e quitandeiras – a cidade também começa a se fortalecer como destino de turismo rural. A produção dos doces é um saber que geralmente acaba passando de pais para filhos e as novas gerações têm optado por manter firme a tradição, transformando-a em fonte de renda e ao mesmo tempo preservando sua relação com o campo e a cidade.
Capela de Nossa Senhora Aparecida
Ao me despedir da Vila Colonial de Cocais volto para a área urbana para fechar com chave de ouro o intenso dia de passeios por Barão de Cocais. Contemplando o Pôr do Sol com direito a uma vista panorâmica da cidade, em frente à Capela de Nossa Senhora Aparecida. Construída no alto de um morro em 1912, a capela teve sua estrutura restaurada por volta de 1990.
—
E a pedida para quem quer conhecer Barão de Cocais é estender o passeio e conhecer também as belezas das cidades próximas, como Caeté, Santa Bárbara e Catas Altas, que completam o roteiro Entre Serras, do Circuito do Ouro.
Sobre o Circuito do Ouro:
Formado por 4 roteiros temáticos, o Circuito do Ouro agrupa 16 municípios marcados pela época do ciclo do ouro e que possuem afinidades culturais, históricas e naturais, além de grande proximidade geográfica entre eles. Alguns dos municípios estão localizados próximos à região metropolitana de Belo Horizonte, e os mais distantes estão a, no máximo, 170 km da capital mineira.
Ao todo são 4 roteiros que integram o Circuito do Ouro:
– Entre Serras: da Piedade ao Caraça
– Entre Cenários da História
– Entre Trilhas, Sabores e Aromas
– Entre Ruralidades e Personalidades
Mais informações: https://circuitodoouro.tur.br/
*Viagem realizada pela editora a convite da Associação do Circuito do Ouro e do Turismo de Barão de Cocais