O Triangulo Atlântico é o tema que narra a 11ª Bienal do Mercosul, que ocorre de 5 de abril até 3 de junho de 2018, em Porto Alegre e Pelotas, no Rio Grande do Sul. Com curadoria de Alfons Hug (Alemanha) e curadoria adjunta de Paula Borghi (Brasil), seis exposições apresentam 77 artistas, sendo 21 da África, 19 do Brasil, 20 da América Latina, onze da Europa e seis da América do Norte, divididos entre o Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS, Memorial do Rio Grande do Sul, Santander Cultural, Igreja das Dores, Comunidade Quilombola do Areal, em Porto Alegre, e na Casa 6, em Pelotas.
Dia 5 de abril, às 19h30, a Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul realiza uma celebração na Praça da Alfândega relativa à 11ª Bienal do Mercosul | O Triangulo Atlântico. Dirigido por Antônio Borges-Cunha, num palco localizado entre o Memorial e o MARGS, o programa oferece espetáculo musical com os artistas Vitor Ramil, Glau Barros, Angela Diehl, Thiago Colombo, Dudu Sperb, Anaadi, Jorginho do Trumpete e Olinda Alessandrini; uma apresentação do grupo “Máscara em Cena” com direção de Liane Venturella; intervenções teatrais com esquetes de alunos do Instituto de Artes da UFRGS coordenados por Patrícia Fagundes; leitura de textos clássicos por Zé Adão Barbosa e performance de dança contemporânea dirigida por Renata de Lélis. E a partir do dia 6 de abril as exposições abrem oficialmente para o público, com entrada franca e para todas as idades.
A temática da 11ª Bienal do Mercosul trata-se de um convite para adentrar as águas atlânticas e as surpreendentes forças que as habitam para reconhecer que a história dos povos do Mercosul também tem uma importante contribuição do outro lado do oceano. A mostra lança um olhar sobre todo o espaço atlântico ou, mais precisamente, sobre aquele triângulo mágico que parece interligar o destino da América, África e Europa há mais de 500 anos.
O Triangulo Atlântico perpassa os movimentos de dispersão por meio da perspectiva contemporânea e multicultural. Pela força da poética em diálogo com a história, a exposição constrói uma linha de pensamento que aborda problemáticas relativas à miscigenação oceânica em encontro com as artes. Com olhar atento aos fluxos migratórios – sejam estes de natureza voluntária ou, em sua maioria, involuntária, se busca compreender a relação entre indivíduo e sociedade estabelecida a partir da travessia desse Atlântico, do comportamento humano e de sua organização. Sob a perspectiva cultural, a diáspora do Atlântico Negro levou a um intenso trânsito de religiões, idiomas, tecnologias e artes.
Como nos faz lembrar o curador chefe, Alfons Hug, “o estado do Rio Grande do Sul e, de forma geral, o sul do Brasil são considerados a “parte branca” do país devido à maciça imigração do século XIX, proveniente da Itália e da Alemanha, principalmente. Mas esquece-se que houve escravos no Rio Grande do Sul desde 1737, que eram utilizados principalmente no trabalho dentro das temidas charqueadas. De fato, no início do século XIX, a parcela de escravos na população era de 30%; portanto, estava acima do que se verificava no Rio de Janeiro ou Salvador. Como verdadeiros testemunhos da presença africana, existem até hoje 130 quilombos no Rio Grande do Sul, seis deles localizados na capital. Porto Alegre é uma cidade típica do Atlântico, e não apenas por terem os primeiros colonos vindo dos Açores, mas porque, ao longo de sua história, todas as características deste oceano estão ali refletidas de maneira exemplar”.
Assim, a diversidade cultural proveniente desta miscigenação oceânica é um fator crucial para compreensão desta triangulação que constitui as bases de formação da identidade brasileira, ou melhor, de muitos brasileiros.
Para o presidente da Fundação Bienal do Mercosul, Gilberto Schwartsmann, existem dois grandes desafios pela frente: “realizar uma Bienal do Mercosul que orgulhe por sua força estética, conteúdo artístico, capacidade de comover, instigar e fazer refletir e ajudar a despertar as pessoas para a beleza e para as grandes questões que importam à humanidade. Ao mesmo tempo, a construção desta mostra deve deixar claro que fatos culturais como este são essenciais para a vida das pessoas e não podem ter sua continuidade simplesmente extinta. Não podem ser produtos descartáveis, sem que haja uma forte resistência dos seres humanos sensíveis e que amam e valorizam arte e a cultura”.

CAMPOS DE ATUAÇÃO DO PROJETO CURATORIAL
I – Quilombos no Rio Grande do Sul
Segundo o professor e colaborador da 11ª Bienal do Mercosul, José Rivair Macedo, “os organismos públicos do Governo Federal reconheciam em 2007 a existência de 35 quilombos no Rio Grande do Sul, enquanto representantes quilombolas indicam a existência de mais de 150 deles. De modo geral tais comunidades são ocupadas por famílias de descendentes de escravos no período de desagregação do sistema escravista. Destacam-se os quilombos de Morro Alto, São Miguel, Rincão dos Martimianos, o Quilombo dos Teixeiras e o Quilombo de Casca. Em Porto Alegre, há três importantes comunidades quilombolas urbanas: o Quilombo do Areal, na área histórica em que habitavam as populações de origem negra logo após a emancipação formal da escravidão, em 1888; o Quilombo dos Alpes e o Quilombo da Família Silva – situado numa das áreas urbanas mais valorizadas da cidade e objeto de grande pressão por parte dos interesses imobiliários até o presente”.
Para entender a importância das comunidades quilombolas remanescentes com o intuito de aproximá-las da mostra, os artistas Jaime Lauriano e Camila Soato são responsáveis por trabalhos específicos. O Paulistano Jaime Lauriano mergulha em comunidades quilombolas com características opostas no eixo Porto Alegre e Pelotas. Seu ponto de partida em Porto Alegre é a Família Silva, num bairro de alto padrão, e em Pelotas a Vó Elvira, na zona rural. Já a brasiliense Camila Soato realiza uma residência na Areal da Baronesa (POA), reconhecida por ser construída pela força de mulheres de geração para geração. Além de donas de casa, essas mulheres eram arrimo da família, em sua maioria lavadeiras. O resultado destas residências está retratado numa exposição individual de Jaime Lauriano na Casa 6 – administrada pela Secretaria de Cultura de Pelotas – e uma exposição coletiva organizada por Camila Soato com pinturas criadas em sua oficina com as moradoras do Areal, na sala principal da sede do Areal da Baronesa.
II- VOZES INDÍGENAS E NIGERIANAS
Na Igreja Nossa Senhora das Dores é apresentada uma instalação sonora com oito línguas da Nigéria e oito línguas indígenas da América Latina. Num primeiro momento, o visitante ouve o murmúrio indefinido e polifônico de várias vozes, num conjunto de sons que lembra uma oração coletiva. Mas quando ele se aproxima das caixas de som, os diversos idiomas impõem-se de forma clara. A redução radical da instalação ao elemento do som exige uma concentração intensa que permite abdicar de elementos visuais. O curador entende que com cada língua extinta, desaparece não só um legado linguístico valioso, mas também uma visão genuína de mundo e do meio ambiente.
Artistas Vozes Indígenas
Barbara Prezeau
Javier López & Erika Meza
José Huamán Turpo
Muu Blanco
Priscilla Monge
Rainer Krause
Sandra Monterroso
Sofía Medici & Laura Kalauz
Curadoria: Alfons Hug
Artistas Vozes Nigerianas
Adeola Olagunju
Ologeh Otuje Charles
Emeka Udemba
Halima Abubakar
Aigberadion Ikhazuangbe Israel
Jeremiah Ikongio
Ndidi Dike
Ralph Eluehike
Curadoria Vozes Nigerianas: Alfons Hug e Uche Okpa-Iroha
PROJETO EDITORIAL
A 11ª Bienal do Mercosul traz um projeto editorial que reúne o registro da exposição O Triangulo Atlântico, com imagens das obras e instalações nos sete espaços, registros da montagem e textos dos curadores Alfons Hug e Paula Borghi e dos convidados José Rivair Macedo e Simon Njami. O catálogo também oferece registros documentais sobre a produção artística de Jaime Lauriano e Camila Soato em suas respectivas residências realizadas durante a 11ª Bienal do Mercosul.
Coordenação Editorial: José Francisco Alves
Fotografia: Ding Musa
Design: Néktar
PROJETO EDUCATIVO
O Programa Educativo desta Bienal convida para prática de descolonização do conhecimento, por meio de uma escuta sensível de que o pensamento hegemônico precisa ser deslocado. Segundo a coordenadora pedagógica Bianca Bernardo, é com a educação que realizamos o exercício fundamental de pensar em como existir, a partir da percepção do nosso próprio lugar no mundo. As ações educativas vão ao encontro da proposta curatorial, que retoma a histórica triangulação que se estabeleceu entre os três continentes no período colonial – Europa, África e América – para debater as relações sociopolíticas e identitárias que se formaram. A filosofia do trabalho está ancorada no ver o Outro, num programa que se caracteriza por questionar o sentido de uma história universal, que reforça a importância de mapear e dialogar com diferentes perspectivas e narrativas locais e individuais.
Neste sentido, educar se torna uma convocação coletiva, na qual todos temos a responsabilidade de engajamento dos nossos desejos de transformação. O Programa Educativo oferece um espaço de convivência e reflexão crítica sobre as questões e as resistências constituídas ao longo de mais de 500 anos, além de Formação para Mediadores e Professores, agendamento de visitas com ônibus gratuito para instituições públicas, Programa Continuado para Escolas e Material Pedagógico, distribuído gratuitamente e disponibilizado online no site da Bienal.
Segundo Luiz Carlos Bohn, presidente do Sistema Fecomércio-RS/Sesc/Senac, “integrar a Bienal do Mercosul, este importante movimento das artes visuais, está alinhado com o propósito da instituição em promover ações culturais e educativas que fortalecem os vínculos com as comunidades onde atua, especialmente esta edição que discute as relações culturais, formativas e de identidade do Brasil”. O Sesc, presente em todo território nacional, vem ao longo de seus 72 anos atuando, dialogando e construindo uma história junto ao desenvolvimento da cultura brasileira, em suas mais diversas manifestações, marcada, pela diversidade e por seu caráter socioeducativo.
Coordenação Pedagógica: Bianca Bernardo
Co-coordenação: Andressa Cantergiani e Renata Sampaio
Design: Néktar
Realização: SESC Fecomércio – RS