Toca do Disco Records chega ao mercado com edição comemorativa de 40 anos de “Pra Viajar no Cosmos não Precisa Gasolina”, de Nei Lisboa

Nei Lisboa. Crédito: Bruna Paulin.

Comemorando os 40 anos de Pra Viajar no Cosmos não Precisa Gasolina, a loja Toca do Disco lança seu primeiro projeto do selo Toca do Disco Records: a reedição em vinil do álbum de estreia de Nei Lisboa, lançado em 1983 de forma independente. Fabricado pela Vinil Brasil em vinil transparente 180g, o disco conta com produção executiva e curadoria da jornalista e pesquisadora musical Bruna Paulin, masterização de Marcos Abreu e design de André Coelho. O encarte duplo vem com a versão original e no verso textos e fotos inéditas.

Fundada por Rogério Cazzetta em 1989 no bairro Bom Fim em Porto Alegre, a Toca do Disco é uma das lojas mais antigas em operação na cidade, comercializando CDs e vinis novos e usados e acompanhando e fomentando diversas gerações da cena musical local. Em 2013 patrocinou a prensagem em vinil de A Vida Inteira, álbum de inéditas de Lisboa e agora inicia as atividades de selo com Pra Viajar no Cosmos. 

À venda com exclusividade pela loja, o disco custa R$ 185,00 e conta com 300 cópias. Para mais informações, acesse https://www.instagram.com/tocadodisco/.

Rogerio Cazzetta, Nei Lisboa e Bruna Paulin. Crédito Rafael Cazzetta

FICHA TÉCNICA

Um disco do selo Toca do Disco Records

Coordenação Geral – Rogério Cazzetta

Produção Executiva, redação e comunicação – Bruna Paulin

Masterização – Marcos Abreu 

Projeto gráfico – André Coelho

Equipe Toca do Disco – Rafael e Francisco Cazzetta

Fabricado pela Vinil Brasil

Agradecimentos: Nei Lisboa, Dedé Ribeiro, Augusto Licks, Carmen Silva Rial, Luiz Carlos Galli, Equipe ACIT (Alan e Ivete), equipe Vinil Brasil (Veridiana e Nicole), Roberto Silva, Gustavo Pimentel, Adriana Duarte

 

Saiba Mais

Um dos álbuns mais icônicos da nossa música celebra quatro décadas de existência, reafirmando seu papel como um marco de sua geração, em um retrato da juventude urbana porto-alegrense dos anos 1980. Pra Viajar no Cosmos não Precisa Gasolina é fruto das vivências de um Bom Fim efervescente e pujante, construído pela “fauna ensandecida do Ocidente” e retratado pelo olhar de cronista do jovem Nei Lisboa. Não é por acaso que a faixa título foi batizada no 10º andar de um prédio na avenida Cauduro, à mesa da cozinha da família Lisboa, a poucos metros da João Telles e do coração da boemia da época na Osvaldo Aranha: Nei e Augusto Licks trabalhavam em uma canção para concorrer ao Musipuc de 1980, festival que lançou grandes nomes da música local. De acordo com as lembranças da dupla, Nei sugeriu “Pra viajar no cosmos” e Augusto completou. No festival, enquanto cantava o trecho “o povo passa fome, o povo quer comer”, o músico jogava pedaços de pão para a plateia, o que lhe rendeu o prêmio de melhor intérprete da edição daquele ano. 

Mesmo antes de nascer em formato LP, as canções de Pra Viajar no Cosmos já circulavam pela cidade, como A tribo toda em dia e festa e Doody II, que integraram Deu pra ti, anos 70, filme de Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti, com trilha sonora assinada por Lisboa & Licks (que também fazem ponta no filme). O título do longa-metragem surge por conta de uma série de pichações que a dupla espalhou pelos muros do Bom Fim em 1979 para divulgar um show no Teatro Renascença. Deu Pra ti anos 70 venceu o Festival de Gramado de 1981 e materializou em película o que os magros do bonfa viviam à época. 

Isso foi alguns anos antes da chegada do segundo álbum gaúcho lançado de forma independente, através de um primórdio do que hoje conhecemos como financiamento coletivo: o Nei Lisbônus, um vale de venda antecipada que garantiu 500 cópias em pré-venda, que somaram-se aos 2,5 exemplares comercializados após o lançamento, ainda sem gravadora. Tudo feito em formato de guerrilha, num bom “do it yourself” versão porto-alegrense. 

Além de seu ineditismo de formato de financiamento, Pra Viajar no Cosmos também é um registro da cena cultural da cidade – a recém nascida Ipanema, ainda chamada de Bandeirantes FM, responsável por fomentar a cena musical de Porto Alegre e ser fonte de formação de diversas gerações de ouvintes e artistas da cidade, iniciava a possibilidade de um compositor local construir sua audiência e ter espaço no dial, mesmo sem possuir os privilégios e o pesado suporte financeiro das grandes gravadoras. Foi através de uma canção gravada em uma fita de rolo que iniciou a construção de comunidade e de cena que tornou esta obra um clássico da música contemporânea gaúcha. 

Em junho de 1983 a turma partiu para São Paulo, na expectativa e emoção de um primeiro disco, onde Fernando Ribeiro mais que gentilmente recebeu e acomodou meia dúzia de gaúchos entre o estúdio de Pinheiros e a casa do Brooklyn. Pra viajar no cosmos não precisa gasolina foi produzido em três semanas, “muito sob a batuta do Augusto, que também compôs alguns dos mais belos temas”, relembra Nei. 

Fruto das vivências entre o Araújo Vianna, o Ocidente, a Lancheria do Parque, o Clube de Cultura, e os saudosos bares João, Lola, Luar Luar, Cais, Escaler e Fedor, o disco apresentou-se como um porta-voz de todos aqueles que viveram o período, em um delicioso e irônico caldeirão que mistura o folk, o reggae, a MPB, o jazz, o blues. Nessa viagem intergaláctica, Pra Viajar no Cosmos não Precisa Gasolina chega em 2023 mantendo seu impacto e relevância e sendo combustível musical para quem quiser embarcar nessa baita trip. Solte a agulha no prato, recline seu assento e boa viagem. 

Bruna Paulin – jornalista e pesquisadora musical 

 

Neste bem-vindo relançamento em vinil, quarenta anos depois de 1983, o título desse disco me soa melhor como uma pergunta. De lá pra cá, as viagens autônomas siderais caíram em bom descrédito, inconciliáveis com a produtividade robótica que cada um de nós é chamado a entregar diariamente. 

Vem a calhar então que se questione se ainda é possível um viver desapegado, viajandão, desafiador – e criativo, sim – como foi a marca de uma geração, aqui fortemente representada. Que a gente o tenha, ao menos, num horizonte utópico como antídoto, soterrados que somos por uma vida digital e monetizada, com tanta caretice embutida. E que lhe sirva pelo uso arbitrário, irreverente e desaforado, a qualquer tempo que se fizer necessário: não me pergunte a hora.

Nei Lisboa, inverno de 2023

 

Pra viajar no cosmos não precisa gasolina…. esse título diz muito para aqueles que viveram a Porto Alegre do começo dos anos 1980. Mas para conseguir antecipado o primeiro LP do Nei Lisboa tínhamos que comprar o Nei Lisbônus, o crowdfunding analógico, sem computador nem celular. E guardar aquele pedaço de papel para retirar o exemplar logo que fosse lançado. O meu retirei na banca da saudosa cooperativa Colmeia, num domingo, no Brique da Redenção.

Em 2013 a Toca Do Disco lançou seu primeiro LP, o álbum A vida inteira, só de inéditas do Nei. Hoje, exatos 40 anos depois de seu disco de estreia e comemorando 34 anos de loja, realizamos o sonho de relançar essa obra do nosso querido Nei pelo selo Toca do Disco Records. Uma oportunidade para aqueles que ainda tem a sua edição original, bem tocada ao longo dos anos, e para aqueles que não acharam por aí, nas resistentes lojas de discos que sobreviveram ao tempo e aos desafios do mundo virtual.

Viva Nei Lisboa, viva o disco de vinil, viva às lojas de discos, viva à resistência cultural em todos os aspectos.

Rogério Cazzetta, Rafael Cazzetta e Francisco Cazzetta – Toca do Disco Records

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A Passageira

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Andressa Griffante é Jornalista, especialista em Marketing de Conteúdo e Influência, e uma viajante apaixonada por arte, história e cultura. Acredita que os lugares e as pessoas tem muito para nos ensinar, e que nem sempre precisamos ir longe para aprender com o mundo.

Que valoriza a liberdade de viajar sozinha e o aprendizado de se perder de vez em quando. Gosta de planejar cada passo de uma viagem com antecedência, mas às vezes se joga numa trip de última hora. Quer aproveitar a vida ao máximo e compartilhar seus caminhos, afinal, estamos todos aqui de passagem…